Poucos ou ninguém se lembrará de uma figura popular de Montes Claros do início do Séc. XX: Zé Botão.
Quem o eternizou foi Nelson Vianna (1956) em seu libro "Foiceros e Vaqueiros".
Zé Botão era um negro (embora Nelson Vianna o descrevesse como "caboclo"). Descendia dos escravos do Dr. Pedro Veloso. Não se sabe de quais males sofria, mas era tido, pela população, como "amalucado". Falava alto e tinha jeito meio esquentado, mas era querido por muitos.
Dormia nos arredores do Mercado Velho (hoje, Shopping Popular). E lá trabalhava fabricando botões, a partir de conchas bivalves, chamadas intãs. Dizem que eram botões muito bem feitos e, por isso, conseguia alguns trocados. Daí o seu apelido: Zé Botão. Fabricava botões usando apenas um canivete, que chamava de "Indústria".
Conta-se que, certa vez, Zé Botão teve uma "malquerença" com uns capoeiras no Mercado. Teria apanhado muito mas batido muito mais. Chamada a polícia, foi espancado até ficar meio-morto. Foi preso e submetido a juri, onde foi absolvido, por conta de sua incapacidade mental.
Livre, novamente, fez uma trouxa com as roupas em que estava vestido no dia de sua prisão, esta toda suja de sangue, e quase foi até Ouro Preto. Sua intenção, como assim dizia a todos que o perguntavam, era mostrar as roupas (prova da agressão que recebera) ao Juiz de Direito Dr. Antônio Augusto Velos (filho de Montes Claros) e pedir que castigasse os seus agressores. Desistiu de ir a Ouro Preto mas pôs-se, a pé, para Curvelo, onde teve notícias de que o Presidente da República, na época, Rodrigues Alves, estaria em visita política. Feita a viagem, conseguiu se colocar de frente a Rodrigues Alves, ninguém sabe como, e, frente ao homem, entregou-lhe as roupas sujas e disse, gritando:
"Dizem que você é quem manda nessa joça toda por ai fora. Pois então, ordene que prendam, em Montes Claros, e castiguem os desalmados que me bateram"
Intimou ele ao Chefe na Nação.
Dizem também que, na ocasião de seu julgamento, o Juiz o perguntou qual o seu nome e ele teria dito:
"É assim mesmo! Agora ninguém sabe o meu nome. Mas na hora que me prenderam lá no Mercado, todo mundo danou a gritar: 'prendam Zé Botão, prendam Zé Botão'...".